Apresentação

O cinema, em suas múltiplas dimensões, na ficção, documentação ou em suas formas mais experimentais, tem, ao longo da história, contribuído para tornar mais permeáveis as fronteiras entre o real e o imaginário. Ao se fazer visível e audível em movimento, tempo e espaço, lugares e experiências, os mais distintos, seja subjetiva ou geograficamente, gera a questão: um só ou muitos mundos? Que outros mundos são possíveis?

Esta arte, como outras, produz mundos através da criação e propagação de valores, signos e modos de vida. O Festival Internacional de Cine-Rebelde, uma iniciativa da MoveMente - Cooperativa Internacional de Educação Popular pretende promover debates sobre conceitos, estéticas e possibilidades de vida nas cidades, ao exibir obras cinematográficas clássicas e alternativas.

A cidade do Rio de Janeiro será sede, entre 22 e 26 de março, do Fórum Mundial Urbano, evento organizado pelas Nações Unidas, que tem como objetivo a formulação de uma agenda para o futuro das cidades. Como contraponto, ocorrerá um Fórum Mundial Urbano Paralelo, organizado por uma rede de movimentos sociais , com o intuito de propagar lutas em prol de cidades menos desiguais. O Festival Internacional de Cinema, organizado no âmbito das atividades deste Fórum Paralelo, tem por objetivo mobilizar e fomentar o debate entre essa rede de movimentos e demais organizações e indivíduos interessados.  

Entre os dias 20 a 25 de Março, será realizado o Festival, quando ocorrerão exibições gratuitas de filmes em diferentes pontos da cidade do Rio de Janeiro, articulando desde locais consagrados na tradição cinematográfica até espaços universitários, espaços públicos, lugares populares e de atuação de organizações sociais.  Os filmes exibidos serão indicados por cineastas e por organizações sociais de longa tradição na defesa dos direitos humanos. A programação será composta, tanto por filmes oriundos do grande circuito, quanto de circuitos alternativos. Oficinas e debates fazem parte da programação do Festival, tornando-o, também, um momento de planejamento de ações para o Fórum Paralelo.

O Festival conta com o apoio da rede de movimentos organizadora do Fórum Paralelo e de outras organizações, tais como: Ação da Cidadania, Tortura Nunca Mais, Escola Darcy Ribeiro de Cinema, Ocupação Chiquinha Gonzaga, Ocupação Quilombo das Guerreiras, Ocupação Zumbi dos Palmares, Zuzamen y Misturados e Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB-Rio). 

 

Porque fazer um cine-rebelde

O cinema produz signos com os quais são construídos significados. Desde sua criação no século XIX, a sétima arte sempre esteve presente no cotidiano das cidades, como importante equipamento coletivo de produção de subjetividades. Como as demais artes, vive uma situação de disputa entre uma lógica mercadológica de entretenimento, que tende a reproduzir clichês e a garantir a perpetuação da lógica cultural hegemônica, e uma efetiva manifestação artística imanente.

O Cine-rebelde é uma possibilidade de exibir filmes artísticos e de temáticas sociais que foram pouco divulgados e exibidos para o público em geral, ou mesmo se mantiveram em circuitos alternativos. Mais do que isso, o que se quer é destacar a existência de distintas formas, diversas singularidades e modos de vida ao entender a estética como afirmação da diferença.

 

Porque pensar o cinema e a cidade

As cidades potencializam o contato humano, por essa razão foram e são constantemente abordadas no cinema, não apenas como cenário ou pano de fundo, mas, em muitos casos, protagonizam os filmes.

Pensar a cidade através do cinema é visualizar diferentes possibilidades de sua construção. Abordando seu processo de modernização, seu crescimento desigual, ou mesmo seu futuro na ficção científica, o cinema traz a possibilidade de refletir sobre quais modos de habitar desejamos para as cidades. 

Atualmente, observa-se a restrição do acesso às salas de cinema, uma vez que, praticamente todas elas se encontram dentro dos shopping centers,  e os preços dos bilhetes sobem à medida  que diminui o número proporcional de espectadores . Restam, assim, poucas das grandes salas dos cinemas em vias públicas. Nesse sentido, o festival engrossa o coro dos que não aceitam a privatização do cinema e da cidade.

Ao se antecipar à abertura do Fórum urbano Paralelo, espera-se que o Festival seja um importante elemento mobilizador para o evento.

 

Porque Internacional

Grupos de ativistas ao redor do mundo se reúnem na atualidade em torno do cinema como principal forma de manifestação de suas idéias e de ação direta para a conquista de seus objetivos. Cine-clubes são formados, festivais organizados, espaços públicos ocupados com cadeiras, telões e projetores, eventos que são manifestações das mais ricas do cinema contemporâneo, pois além de expor os modos heterogêneos na cidade,  atualizam-na. Os filmes têm sua duração estendida, transformando-se em debates, momentos de reflexão coletiva e planejamento de ações.

O Cine-Rebelde articula-se também a co-participantes de cidades estrangeiras como  Zusamen y Misturados em Tübingen, na Alemanha, Jovenes por La resistencia autônoma da Cidade do México, no México, Comunidad Del Sur em Montevidéu, no Uruguai e America Libre em Mar Del Plata, na Argentina.

Durante o Festival Internacional de Cine-Rebelde serão desenvolvidas videoconferências entre alguns desses grupos espalhados pelo planeta, proporcionando um momento único para se pensar a cidade, o Fórum Urbano Mundial e o papel do cinema. Com esses debates internacionais, pretende-se, ainda, o fortalecimento dessa rede de movimentos, por meio do contato direto, da troca de experiências e do planejamento de ações que possam promover cidades menos desiguais.

   

Cooperados:

Adriana dos Santos (antropóloga, professora e artista plástica)

Daniel Coelho Barcante Pires (Geógrafo com Especialização em Sociologia Urbana - UERJ)

Fernando Mamari (Geógrafo – UFRJ e cineasta)

Gilda Moreira (Mestre em Lingüística – UFRJ e professora)

Heitor F. Coelho (Advogado e professor)

Iazana Guizzo (Arquiteta e urbanista, mestre em Estudos da Subjetividade)

João Barbosa (Camelô, pedreiro e intelectual – Ocupação Chiquinha Gonzaga)

Julia Franca (artista circense, bailarina contemporânea e professora)

Marcelo Pires Negrão (Geógrafo, mestrando em Economia – Univ. Paris III)

Mariana Ferreira (Artista plástica, psicóloga, mestre em Saúde Coletiva IMS - UERJ, professora)

Pedro Henrique Oliveira Gomes (Geógrafo, estudante de pós-graduação em Sociologia urbana e pesquisador no IPPUR/UFRJ)